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Geoprocessamento e Tecnologia Aplicada aos Processos Ambientais

O Geoprocessamento é a aplicação mais tangível sobre a observação de um fenômeno geográfico. A compreensão sobre a transformação do meio ambiente dentro de um processo de estudo de impactos, deve ser potencializada a partir da representação deste espaço Geográfico em ferramentas tecnológicas, possibilitando a distribuição georreferenciada dos fenômenos significativos na paisagem originadas da relação entre o homem (empreendimento) e o meio em que irá transformar.

As ferramentas tecnológicas avançam constantemente e o domínio sobre todas as suas possibilidades é quase utópico, precisamos sim compreender o avanço tecnológico, absorver aquilo que nos impacta diretamente, mas o entendimento sobre o fenômeno e sua interpretação inserido no espaço geográfico é o que garante a qualidade e sucesso a longo prazo de um projeto ambiental.

A partir de vivências no setor ambiental entendi com o tempo que um dos maiores indicadores do crescimento da economia no Brasil é o volume de projetos acumulados na Diretoria de Licenciamento Ambiental do IBAMA. 

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Durante os anos ouvi muito os termos funil, gargalo e barreira para o desenvolvimento. Os empresários em alguns anos de forte desenvolvimento de nossa economia culpabilizaram muito o licenciamento ambiental como entrave para a implantação de empreendimentos, tornando o meio ambiente um vilão do desenvolvimento econômico. Na outra ponta o desenvolvimento econômico com este discurso se torna vilão de todos aqueles que prezam por um desenvolvimento sustentável com preservação dos recursos naturais. O fato é que a modernização do processo de licenciamento com uso de ferramentas tecnológicas vem reduzindo anualmente o tempo médio para realização dos estudos e para a aprovação dos mesmos pelos órgãos ambientais. O uso de tecnologia vem trazendo benefícios para todas as partes envolvidas garantindo estudos mais completos em tempo reduzido.

O gráfico abaixo demonstra a evolução do número de licenciamentos ambientais federais no Brasil: 

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O primeiro EIA/RIMA como conhecemos atualmente foi aprovado em 1990 após a resolução CONAMA 001/1986 caracterizar impacto ambiental e a obrigatoriedade deste tipo de estudo para grandes empreendimentos.

No Artigo 1° a resolução traz o seguinte texto: “Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:

I – a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

II – as atividades sociais e econômicas;

III – a biota;

IV – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;

V – a qualidade dos recursos ambientais.

No Artigo 2° a resolução caracteriza as atividades que obrigatoriamente as atividades modificadoras do meio ambiente, tais como:

I – Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento;

II – Ferrovias;

III – Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos;

IV – Aeroportos, conforme definidos pelo inciso 1, artigo 48, do Decreto-Lei nº 32, de 18.11.66;

V – Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgotos sanitários;

VI – Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV;

VII – Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: barragem para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação de cursos d’água, abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias, diques;

VIII – Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão);

IX – Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de Mineração;

X – Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou perigosos;

Xl – Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária, acima de 10MW;

XII – Complexo e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos, siderúrgicos, cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de recursos hídricos);

XIII – Distritos industriais e zonas estritamente industriais – ZEI;

XIV – Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100 hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental;

XV – Projetos urbanísticos, acima de 100ha. ou em áreas consideradas de relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e estaduais competentes;

XVI – Qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em quantidade superior a dez toneladas por dia.

Avaliando o gráfico conseguimos fazer uma revisita no processo histórico da economia brasileira dos últimos 30 anos percebendo os momentos de grande otimismo e as crises que nos assolaram durante este período.

Com a consolidação dos Estudos de Impacto Ambiental houve um crescimento exponencial das chamadas consultorias ambientais que fazem o trabalho de diagnóstico, mitigação e monitoramento ambiental para empreendedores que desejam implantar e operar um empreendimento.

Portanto dentro dos processos ambientais, simplificando bem a questão foram durante 30 anos 3 principais representantes:

·      Empreendedor

·      Consultoria Ambiental

·      Órgão Ambiental

Estes três atores ao longo do tempo evoluíram em momentos diferentes, o aumento de investimento devido à alta demanda e forte competição trouxe novos conceitos e incremento de tecnologias dentro das grandes empresas que demandaram processos de inovação. Já as consultorias e o órgão ambiental foram evoluindo de forma reativa a partir do aumento da exigência dos empreendedores e da pressão por celeridade na aprovação dos estudos.

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Em paralelo passamos neste período pela chamada transformação digital, e o avanço tecnológico que mudou a forma de vida em nosso mundo também trouxe possibilidades de ganho de performance e resultados promissores nos processos ambientais. O Geoprocessamento que é um conjunto de técnicas e ferramentas que permitem a modelagem do mundo real em ambiente computacional ganhou nos estudos ambientais uma de suas aplicações mais presentes. Por muitos anos ao se falar em Geoprocessamento logo se associava aos diagnósticos de meio ambiente e estudos de território demandados por esta área de negócio. Hoje vemos o Geoprocessamento presente em aplicativos diversos, que utilizam da localização e são acessíveis até para crianças, mas nesta curva de evolução apresentada os processos ambientais têm grande influência no crescimento das geotecnologias.

Acompanhei o início deste processo de evolução do GIS nos processos ambientais, primeiramente o uso de sensoriamento remoto e os mapas de uso e ocupação do solo que vieram para diagnosticar e atualizar os mapeamentos tradicionais. Este processo ocorreu quando os termos de referência dos órgãos ambientais passaram a exigir análises multicritério e mapeamentos atualizados, neste momento iniciou o movimento que vou chamar aqui de primeira onda de absorção de tecnologia nos processos ambientais:

1° onda – (início na década de 1990) Utilização de softwares desktop e o Geoprocessamento aplicado aos estudos de licenciamento prévio.

O uso de geoprocessamento nos estudos ambientais inicia com o aumento da demanda por atualização de mapeamentos nas áreas de influência dos empreendimentos. Em paralelo, o lançamento de satélites de observação da terra aumentou a disponibilidade por imagens com ganho de cobertura e redução nos preços. Este movimento fez aumentar a demanda por profissionais analistas que dominavam as ferramentas de vetorização e processamento digital de imagens. Havia uma grande incompatibilidade neste momento com as áreas de projeto que ainda não haviam absorvido técnicas de georreferenciamento e utilizavam softwares CAD, tradicionais nas empresas de engenharia que disponibilizavam os projetos básicos e executivos para que as consultorias realizassem os mapeamentos das áreas de influência.

Neste sentido o geoprocessamento é quase exclusivo aos estudos de licenciamento prévio – LP sendo importantes no diagnóstico das áreas de influência subsidiando as áreas técnicas para caracterização ambiental com dados e mapas temáticos sob demanda.

O produto principal nesta primeira onda é um conjunto de mapas que caracterizam o empreendimento e suas áreas de influência. Em um EIA/RIMA completo um caderno de mapas pode ter cerca de 60 mapas temáticos divididos entre meio físico, sócio, biótico e caracterizações gerais.

Entendo que a produção de mapas ainda irá permanecer presente nos estudos ambientais, pois são o produto protocolar para cumprimento de exigências nos termos de referência. Mas acredito em uma mudança na forma de apresentação dos documentos técnicos para meios digitais, excluindo as densas impressões e plantas em formatos A0, A1, A2, A3 e A4.

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Por muito tempo alguns órgãos ambientais solicitavam somente os mapas em PDF, excluindo a responsabilidade sobre o conteúdo e melhores práticas no tratamento dos dados, atualmente juntamente com os mapas em PDF é necessário enviar o banco de dados geográfico com metadados e arquivos raster para comprovação das imagens citadas nos estudos.

A primeira onda ainda concentra a maioria dos usuários de geoprocessamento nos processos ambientais, e grande parte das consultorias e departamentos de geoprocessamento dos empreendedores ainda são consumidores das soluções de GIS desktop, sejam os softwares proprietários ou os softwares livres, dedicados para análise e produção cartográfica.

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Importante salientar que os termos utilizados neste artigo “ondas” representam a visão do autor e são coexistentes e que o surgimento de uma ruptura nos processos de absorção de tecnologia não implica na extinção de outro modo de trabalho. Eles precisam ser complementares, o que implica em infraestrutura e planejamento.

2° onda – (início por volta de 2011) Integração de dispositivos móveis, aplicações Web e o Geoprocessamento aplicado a implantação e a operação de empreendimentos

 Com o avanço tecnológico e o crescimento da cobertura de internet móvel as possibilidades de acesso à informação multiplicaram exponencialmente. Neste momento também passávamos em nosso país por um período de crescimento econômico e como foi associado neste texto o consequente crescimento nos pedidos de licenciamento ambiental devido ao aumento de investimentos em infraestrutura e industrialização no país.

 Este aumento no número de pedidos de licenciamento como dito anteriormente provoca uma reação em cadeia e um dos efeitos é a exigência por estudos mais céleres e uma necessidade dos empreendedores em acompanhar a execução de forma mais transparente para evitar uma reprovação tardia e um aumento no prazo de execução de um projeto.

Neste contexto surgiram os aplicativos móveis de coleta de dados em campo, que no momento não era uma completa novidade, mas a capacidade de integração entre GIS desktop, aplicações web e aplicativos móveis, sim e proporcionaram uma revolução na forma de coleta de informações e disponibilização dos dados para consultoria, empreendedor e órgão ambiental. 

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A necessidade de ganho de produtividade e transparência entre prestador de serviço e empreendedor, trouxe a era do WebGIS as aplicações de GIS online que integraram campo e escritório e trouxeram o empreendedor para dentro do processo de elaboração dos estudos ambientais. Com a informação disponível se quebrou o paradigma da entrega final do estudo, visto que se tornou possível ter acesso a elaboração, fotos de campo anexadas aos pontos de coleta, tabelas de monitoramento, todos os documentos anexados em uma única aplicação, em tempo quase real da produção. Toda informação sobre o empreendimento está disponível em um único link e com acesso de qualquer dispositivo e de qualquer local.

A segunda onda trouxe um novo momento para o Geoprocessamento nos processos ambientais, os usos múltiplos e integrados de uma mesma aplicação, neste momento se tornou tangível, a ruptura de silos e departamentos seguindo as melhores práticas, trouxe para uma única aplicação subsídio suficiente para a consultoria ambiental, o setor de meio ambiente do empreendedor, setor fundiário e engenharia.

Mas a verdadeira revolução que caracteriza em meu entendimento esta segunda onda, foi a migração do GIS para além da Licença Prévia. Com o empreendedor conhecendo melhor as funcionalidades do Geoprocessamento, logo foi demandado e entregue aplicações para a implantação e para a operação dos empreendimentos. Assim as consultorias passaram a executar os monitoramentos ambientais que consistem principalmente de coletas de campo, sejam para os meios físico, biótico e socioeconômico com ferramentas GIS, trazendo um ganho de produtividade e uma capacidade de integração para gerenciamento de informação ainda não presenciadas no setor. 

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O GIS passou a permear os canteiros de obras e as vistorias de manutenção e operação dos empreendimentos. A Segunda onda, portanto, possibilitou a saída do GIS do departamento técnico antes utilizado e manuseado somente por cartógrafos, geógrafos e analistas de geoprocessamento para a esfera de gestão e conquistou novas áreas usuárias fornecendo um novo modo de trabalho, integrado e inserindo o território no status que sempre lhe deveria ter sido dado o de denominador comum em uma implantação ou operação de ativo. A base onde todos produzem informação e onde todos podem consumir esta informação de forma integrada e mais importante de forma complementar.

3° onda – (início por volta de 2018) Integração definitiva com business intelligence, e o Geoprocessamento aplicado a obtenção de crédito e medição de políticas ambientais sustentáveis.

Mais uma vez um salto tecnológico influencia diretamente a aplicação de GIS na área ambiental, vivemos atualmente na era dos 140 caracteres. A palavra chave é velocidade, poder de síntese e nenhuma outra área trouxe tamanho poder de sintetização quando o BI, suportado por uma crescente capacidade de processamento de dados via ferramentas de aprendizado de máquina e processadores em nuvem trazendo possibilidades inéditas até então.

O modo de trabalho é baseado em rápida visualização e tomada de decisão. A informação precisa estar limpa, conectada e direta. A era dos dashboards e painéis gerenciais chegou e o Geoprocessamento se integrou, pois como todos da área defendemos: todo e qualquer dado é espacial e a ciência de dados é porque não também uma ciência de dados espaciais.

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Trazendo para a esfera ambiental e contextualizando com os processos tradicionais de licenciamento, temos nestas aplicações um poder de relacionamento de dados, inferências, capacidades preditivas e complementaridade entre programas ambientais, condicionantes e gerenciamento de riscos. Podemos inserir em um mesmo painel gerencial todos os dados levantados em um estudo de viabilidade e com filtros e relacionamentos encontrar rapidamente um insight sobre uma melhor alternativa locacional ou criar cenários matriciais e apresentá-los com ferramentas dinâmicas permitindo rápida interação e poder de decisão.

Percebemos aqui uma nova revolução do GIS aplicado nos processos ambientais, após a saída do departamento técnico e a absorção para outras áreas de negócio aqui temos claramente as aplicações suportando a tomada de decisão nas camadas de gestão.

Outras aplicações desta terceira onda envolvem a questão da alta produção de imagens de satélites e nano satélites com a alta capacidade de treinamento de máquinas para atingir um público inédito: os detentores de crédito e títulos com compromissos socioambientais. Com imagens diárias de qualquer ponto do globo em alta resolução a possibilidade de se monitorar recomposições florestais, desmatamentos irregulares e associar a obtenção de crédito motivada principalmente pela política ambiental trazidas pelas ESGs faz novamente uma reciclagem na aplicação de Geoprocessamento nos processos ambientais os três atores que protagonizaram até o momento as ondas anteriores Órgão Ambiental, Consultoria e Empreendedor agora recebem a companhia de bancos, corretoras financeiras e certificadoras em busca de melhoria nos indicadores ambientais. 

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Mas esqueça produção cartográfica, ou coletas em campo, a terceira onda é remota, baseada em IA e possui grande abrangência no setor ambiental, o Geoprocessamento é fundamental na criação de aplicações e modelos que entregam para o mercado financeiro respostas diretas e capazes de subsidiar transações milionárias.

A OPT GIS está presente no mercado de Geoprocessamento a 11 anos e realizou projetos e consultorias para grandes empresas compreendendo todas as evoluções que o Geoprocessamento atravessou neste período. Atualmente temos produtos e aplicações que respondem a produção de cadernos de mapas, a criação de aplicações web e manutenção de monitoramentos via WebGIS em ampla extensão territorial e estamos focados na criação de soluções que envolvam os conceitos apresentados nesta 3° evolução. Temos experiência em desenvolvimento de sistemas GIS contemplando várias áreas de aplicação: web, mobile, desktop, app’s. Atendemos todas as pontas deste negócio, consultoria para criação de ambientes de produção e suporte, empreendedores, reguladores, órgãos ambientais e sistema financeiro com aplicações focadas em monitoramentos de políticas de sustentabilidade.

Escrito por

Marcos Vilela

Função: Especialista GIS para Energia e Meio Ambiente
https://www.linkedin.com/in/Marcos Vilela/

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