Café caro: Entenda os motivos da alta

AGRONEGÓCIOSARTIGO

Marlon Suenari - Líder de soluções para Agronegócios

2/19/20254 min read

Houve um período da minha vida, quando meus filhos eram pequenos e ficavam com febre e nariz escorrendo, que toda ida ao médico ouvia o mesmo diagnóstico: "É virose!". E isso era tão recorrente que cheguei a acreditar que as demais doenças haviam desaparecido da face da terra.

Nos últimos meses vejo algo semelhante acontecendo com relação ao aumento do preço do café. A narrativa predominante na mídia atribui o problema a um único fator: as mudanças climáticas.

Para não incorrer no mesmo erro, antes de começar esse artigo, consultei especialistas de cooperativas de café, consultorias e profissionais do mercado buscando trazer uma visão mais abrangente da situação. O objetivo aqui é trazer um panorama mais amplo e tentar identificar estratégias para mitigar as causas dos desafios que enfrentamos do café caro.

Continuando, é verdade sim que o clima adverso – calor excessivo e chuvas fora de época – impactaram a colheita no Vietnã, o segundo maior produtor mundial responsável por 18% da produção global. E, embora o país não divulgue seus estoques, a queda de aproximadamente 17% nas exportações na safra 2023/2024 já dava indícios de redução da oferta.

No entanto, justificar um aumento de preço superior a 60% em um ano apenas com a queda nas exportações do Vietnã não é uma explicação convincente, especialmente quando os demais países produtores, incluindo o Brasil – maior fornecedor mundial e responsável por 30% da produção global, mantiveram níveis de produção estáveis em relação às safras anteriores.

O clima é só a ponta do iceberg

E é aqui que encontramos o primeiro aspecto que gostaríamos de pontuar que é a oferta e procura.

De acordo com o relatório de 2023 da Organização Internacional do Café (ICO), desde 2018, a produção global de café encontra-se estabilizada em torno de 170 milhões de sacas de 60 kg, conforme tabela abaixo.

Café caro: Lei da oferta e procura

Por outro lado, de acordo com o mesmo relatório, o consumo de café cresceu significativamente nos últimos anos, com um salto expressivo durante a pandemia de Covid-19 (safra 2021/2022). Esse aumento na demanda foi agravado por uma queda de produtividade nas safras desse período, reduzindo ainda mais a disponibilidade de estoques e resultando em balanços negativos.

Com os estoques globais em níveis mais baixos desde então e consumo em crescimento contínuo, o cenário de alta de preços do café que encontramos desde 2024 já era ou deveria ser algo previsível.

No gráfico abaixo, é possível observar os saldos negativos de 8,6 e 4,9 milhões de sacas nas safras 2021/2022 e 2022/2023, respectivamente.

Fonte: December 2023 Coffee Report and Outlook – ICO International Coffee Organization

Fonte: December 2023 Coffee Report and Outlook – ICO International Coffee Organization

Segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a previsão do estoque global de café para o final da safra 2024/25 é de 20,9 milhões de sacas de 60 kg, o menor dos últimos 25 anos.

A situação do estoque brasileiro apontada no relatório da Conab de dezembro de 2024 - Série Histórica de Estoques Públicos, nos trazem uma alerta ainda maior, visto que a disponibilidade de café é praticamente zero desde 2017. Tais recursos deveriam estar disponíveis a fim de regular eventuais oscilações de preço.

Fonte: Conab - Série Histórica de Estoques Públicos Dezembro 2024

Lembrando que não podemos deixar de lado a questão do ciclo produtivo do café.

O café normalmente produz mais em um ano e menos no ano seguinte de forma alternada e o termo para isso é chamado bienalidade. Em anos de alta produtividade, a planta direciona grande parte de sua energia para o desenvolvimento dos frutos, o que pode levar ao consumo de suas reservas e comprometer o crescimento vegetativo do ano posterior.

Como consequência desse desgaste, a produção tende a ser menor devido ao enfraquecimento do período de alta. Esse ciclo se repete ano a ano fazendo com que a oferta varie e por consequência os preços.

Café caro: Entenda seu ciclo produtivo

Por isso, o preço do café possui um padrão de crescimento muito característico. Normalmente a cada 2 anos os preços sobem em movimentos de 2 altas e 2 quedas como mostra o gráfico abaixo extraído do site da ABIC Associação Brasileira da Indústria de Café. Seguindo esse movimento histórico é provável que haja uma queda do preço, mas dificilmente voltarão aos patamares anteriores.

Fonte: Mapa/SPA até 2016 e ABIC a partir de 2017

Para concluir essa primeira parte do artigo gostaria de trazer um resumo do que foi abordado. O aumento dos preços não ocorreu apenas por causa de um único fator, mas pela soma de pontos como: Aumento do consumo, Redução dos Estoques, Produção estagnada.

No próximo artigo, serão abordados os aspectos necessários para resolver o problema da produtividade mantendo a área atual e mitigando os riscos climáticos.

Nos vemos em breve.

Conclusões sobre o café caro

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